Há as feitas com ferro e cadeados. Mas as mais sutis são feitas com desejos. Esquisito o que vou dizer: a alma é uma biblioteca. Nela se encontram as estórias que amamos. Romeu e Julieta, Abelardo e Heloisa, Luiz e Ivani, O paciente inglês, As pontes do Madison, Amor nos tempos do cólera, A menina e o pássaro encantado. As estórias que amamos revelam a forma do nosso desejo. Delas, escolhemos uma.
É a nossa gaiola. Gaiola na mão, saímos pela vida à procura do nosso pássaro. Quando imaginamos havê-lo encontrado... que felicidade! Ficará feliz em nossa gaiola. Será o amante da nossa estória de amor: eu para você, você para mim... Nós o colocamos lá dentro e pedimos que nos cante canções de amor.
Acontece que o pássaro também tinha a sua estória. E era outra. Todo pássaro deseja voar. Ele bate suas asas contra as grades, suas penas perdem as cores e o seu canto se transforma em choro. E, de repente, ele se transforma Não mais o reconhecemos. É um outro. Essa é a razão por que a dor da paixão satisfeita é muito maior.
Contada assim, a estória parece ter um vilão e uma vítima. A verdade é que os dois são vilões, os dois são vítimas. O desejo da gente é sempre engaiolar o outro e levá-lo pelos caminhos que são nossos. Isso vale para tudo: marido-mulher, pai-filha, mãe-filho, patrão-empregado, professor-aluno... Não admira que Sartre tenha dito que: “ o inferno é o outro”
Não haverá uma saída. Lembro-me de um pequeno poema de Pearls que sugere a possibilidade de uma relação sem gaiolas: Eu sou eu. Você é você. Eu não estou neste mundo para atender às suas expectativas. E você não está neste mundo para atender às minhas expectativas. Eu faço a minha coisa. Você faz a sua. E quando nos encontramos. É muito bom.
Desconheço o autor
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