LIBERTAÇÃO DO PASSADO
Uma mulher foi visitar o seu pai, que era um yogue conhecido
e muito respeitado na região sul da Índia antiga. Assim que os dois se
encontraram, moça disse:
- Pai, sempre observo como você é respeitado pelas pessoas.
Queria ter toda essa tranquilidade que você tem. Como faço para conseguir paz
em minha vida?
O pai olhou sua filha, ficou feliz pela pergunta e disse:
- Filha, deixe isso de lado um pouco. A paz é algo ainda
distante. Comece, por enquanto, jogando fora algumas coisas em sua casa que
você não precisa e que não te trazem boas lembranças.
A filha ficou visivelmente contrariada. Não entendia a
atitude do pai. Sendo um homem tão sábio, por que dava orientações a todos, mas
se negava a ensinar sua própria filha?
A moça retornou ao seu lar e sentiu que, realmente, seria um
bom momento de se desfazer de alguns pertences que já não utilizava. Estava
mesmo sentindo que sua casa precisava esvaziar-se de algumas tralhas.
Primeiro de tudo, resolveu localizar os objetos dos quais
não mais necessitava. Pegou antigos presentes usados, roupas velhas, sapatos
furados, bijuterias e até algumas cartas de antigos namorados. Conforme ia
pegando nas roupas rasgadas, surgiam lembranças dos momentos em que as usou. As
cenas iam cruzando sua mente com todas as recordações. Conseguia sentir a
emoção dos momentos bons e ruins de quando as usou. Levantou bastante poeira
movimentando tudo, tirando do lugar e se jogando fora. Alguns objetos traziam
lembranças sentimentais, como o chapéu dado pela sua avó já falecida. Hesitou
em joga-lo fora, por ter sido um presente de sua avó, mas como já estava muito
velho, resolveu atira-lo no lixo. Não foi nada fácil desapegar-se de certos
pertences, em especial aqueles que lembravam momentos bons e ruins. Cada
utensílio era localizado, trazia recordações, com cenas, sentimentos e
experiências. Parecia regressar no tempo e sentir diversas fases de sua vida
como se elas estivessem ocorrendo agora. Pegou também presentes de
ex-namorados. Um desses homens ela ainda guardava um sentimento por ele e
também um certo apego. Demorou algumas horas, mas a moça pôde revisitar muitas
fases diferentes de sua vida, senti-las, chorar, observar o que pensava e como
via o mundo em diversas épocas, e finalmente jogar tudo fora.
Após toda essa experiência com seu passado, estava se
sentindo diferente. Sentiu-se mais tranquila, mais leve e mais livre de tudo.
Estava menos carregada e sentia, pela primeira vez em muitos anos, uma paz que
a preenchia por inteiro.
Alguns dias depois, foi novamente visitar seu pai e contou
todo o ocorrido. Disse que estava se sentindo bem melhor após ter arrumado a
casa e jogado alguns pertences antigos fora. O pai virou-se para ela e disse:
- Filha, quando você me perguntou como fazia para conseguir
paz em sua vida, eu te dei a resposta, e você iniciou esse processo.
Desfazendo-se de alguns objetos do passado, você pôde seguir os sete passos da
libertação da prisão do passado.
- Eu segui? - Perguntou a filha surpresa. – Mas que passos
são estes?
O pai respondeu:
- O primeiro passo é agir para resolver um problema. No
caso, você sentia a intranquilidade, e começou a buscar uma solução para isso.
Esse é o primeiro passo. A ação que procura solucionar um sintoma ou problema e
entender que precisamos nos libertar disso. Essa é a fase do início da busca.
O segundo passo é localizar a fonte do problema. Em sua
casa, você procurou os objetos que teria que jogar fora. Isso equivale, no
plano emocional, a buscar o local exato da origem do problema. Onde, por
exemplo, começou a minha angústia, a ansiedade, a tristeza, a dor, a doença,
etc. Essa é a fase da localização.
O terceiro passo é rever o problema e senti-lo intensamente,
experimenta-lo novamente como se ele estivesse ocorrendo agora. Cada pertence
que você encontrou, vieram lembranças muito emocionais, você recordou cenas e
acontecimentos, sentiu a emoção deste tempo passado e colocou para fora os
últimos resquícios desses sentimentos arraigados. Ninguém se liberta de alguma
situação não resolvida ou de alguma experiência mal digerida do passado se não
entra em contato com seu núcleo e a sente novamente. Essa é a oportunidade de
liberar toda a carga retida. Essa é a fase da experiência e do esgotamento das
emoções acumuladas.
O quarto passo é desapegar-se daquilo. Algumas pessoas
relembram o passado, o sentem, mas como ainda continuam apegadas a ele, dando
alguma espécie de valor ao objeto de apego, elas permanecem presas. O desapego
corresponde ao ato de jogar fora aquele objeto. No momento que você o jogou
fora, você consolidou que não precisava mais daquilo e se desfez do que te
prendia. No plano interior, o desapego não é exatamente uma ação, mas uma
escolha. Essa é a fase do desapego.
O quinto passo é perdoar qualquer mal ou prejuízo que o
passado tenha nos causado. Isso implica no perdão de maus tratos, ofensas,
agressões, frustrações, etc. Quando você pegou as cartas de ex-namorados, você
já estava tranquila interiormente e pôde perdoa-los de qualquer mal que tenham
feito a você. Se não tivesse perdoado, ainda estaria apegada a eles de alguma
forma. É importante perdoar o algoz, mas também perdoar a nós mesmos por termos
errado. O perdão dos próprios erros é fundamental, e aqui cabe lembrar que
somos todos imperfeitos e estamos sempre sujeitos a erros. Da mesma forma que
erraram conosco, nós também erramos com muitos outros. Por isso, é importante o
perdão e o autoperdão. Essa é a fase do perdão.
O sexto passo é fazer uma revisão do passado e tentar
entender porque tivemos que experimentar aquilo. Qual o motivo daquele
sofrimento, daquela dor, daquela doença, ou de qualquer mal que nos acometeu.
Que responsabilidade tivemos em sua produção? Após rever nossa responsabilidade
nisso, é importante arrepender-se de qualquer mal feito e também pedir perdão a
nós mesmos. Rever o passado nos ajuda a chegar ao sétimo e último passo.
O sétimo passo é o aprendizado final. Toda experiência deve
ser transformada em aprendizado. Ela deve trazer um significado para nós, e
isso deve servir para evitar erros futuros. O aprendizado é a libertação final
do passado, pois ele evita que os erros do passado sejam reeditados em novas formas
no futuro. Lembrando sempre que os erros passados que não foram aprendidos
podem ser repetidos num futuro próximo ou distante. Portanto, o aprendizado é
fundamental, e é o último passo para a libertação do passado e para o encontro
com a paz.
Texto de Hugo Lapa
Fonte: Espiritualidade para Todos
Neste novo ano estou a tentar visitar todos os amigos da Verdade Em Poesia afim de lhes desejar um 2016 muito feliz cheio de grandes vitórias e muita saúde e Paz.
ResponderExcluirAntónio.
Ps. Tive de seguir novamente pois estava a seguir sem foto.