sexta-feira, 17 de julho de 2009

Banalização do Amor !


Carta ao senhor Aurélio (Contra a banalização do amor!!!)
Perdoe-me a maneira como me dirijo ao senhor, mas não vejo outra forma de expor minha indignação frente a um problema que a muito me inquieta. Talvez estas palavras não deveriam ser direcionadas ao senhor, porém não tenho conhecimento da existência de outra pessoa a quem eu poderia verbalizar. Mas na verdade não és o primeiro a ouvir minhas queixas...

Ainda esta semana, estava apreensiva em meu quarto procurando alguém para desabafar quando olhei a escrivaninha ao meu lado e vi o livro... Neste momento percebi que antes de tudo era necessário falar com o Senhor... O Senhor todo poderoso!!! Peguei então a Bíblia, segurei-a para o alto e fiz logo um contato direto... Mas até agora Ele não me respondeu... Então desconsolada, olhei novamente a escrivaninha e vi o seu livro... O dicionário... Pensei logo em lhe mandar esta carta. Talvez ela não encontre o seu destinatário, por via das dúvidas decidi lê-la à noite na varanda da minha casa, pois sei que sua estrela brilha no alto céu...

Perdoe-me mais uma vez, agora por minha prolixidade, mas vou logo falar sobre o que me faz tomar tal atitude. É o que o senhor bem denomina como sendo: 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem. 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro, ou a uma coisa. 3. Inclinação ditada por laços de família. 4. Inclinação sexual forte por outra pessoa. 5. Afeição, amizade, simpatia. 6. O objeto de amor (1 a 5).

Pois bem... Como o senhor viveu bem mais que eu, não irei aqui discutir a sua definição. Porém o problema é que o homem (eu digo... O povo) está mudando tudo!!! Isso que o senhor escreveu ai... Não é assim mais não... Veja só: Como classificar aquelas pessoas que quando bebem dizem que amam todo mundo? É primeira, segunda, terceira, quarta ou quinta definição? E aquelas pessoas que eu mal conheço que me mandam recados e se despedem com um “eu te amo”? E aí? Eu penso o quê? Ah, Ah???...

Além dessas pessoas que usam desta palavra para descrever sabe lá Deus o quê... Se eu souber que o sentimento é realmente o amor, ainda tem a questão de tentar enquadrá-lo em um desses significados. Porque uma coisa é eu dizer “eu te amo” na quinta definição e outra coisa é eu dizer “eu te amo” na quarta...
Digamos que eu esteja na sala de aula, de repente o lápis de um amigo meu cai no chão. Eu apanho e ele agradece me dizendo: Obrigado amor... E aí como eu interpreto? Eu sei que agora ele só está querendo ser gentil, mas se um dia ele me disser isso se utilizado da segunda ou quarta definição ao invés da quinta... Como eu vou saber?

Entendeu minha preocupação? Não que eu esteja lá no fundo sendo motivada a fazer estes questionamentos, por causa de um certo indivíduo que um dia desses me proferiu tais palavras... Não que é isso?!... Nunca tive esse tipo de dúvida... Mas eu me preocupo com a menina que está em seu quarto agora rememorando os momentos da ultima sexta-feira, sem saber se o “amor” do rapazinho foi de gentileza, ou da primeira ou segunda definição... Eu penso no menino que está agora sonhando acordado lendo o bilhetinho com aquele “eu te amo” da mocinha, sem nem saber que está sendo iludido, porque pra a mocinha aquele “eu te amo” é só uma maneira de falar... Eu penso no bem de todos... O bem da nação!!!

Um dia desses estava lendo um livro de Gerd Bornheim, antropólogo, e me deparei com uma discussão que me fez muito refletir... Ele dizia que a língua é uma realidade viva e que o sentido que certas palavras hoje possuem, com o tempo poderá não ser o mesmo, dessa forma o dicionário mata as palavras, deixa-as sem vida, estáticas. Estamos num mundo de transformações históricas, dessa forma fica difícil se imaginar uma prática cultural que consiga existir sem se deixar ser influenciada pelas pressões características da nossa época. O homem muda e assim também se modificam as suas ações, necessidades e aspirações.

Eu concordo com Bornheim, mas também entendo o lado do senhor... Imagina se a gente fosse colocar no dicionário as definições que o “povão” dá as palavras... Para definir a palavra amor, por exemplo, iria ser mais de 300 páginas...
Pois é... E agora... O que eu faço? Quer dizer... Como é que o povo fica?

Deixo aqui meu protesto... CONTRA A BANALIZAÇÃO DO AMOR!!!
Thatá Oliveira
Publicado no Recanto das Letras em 22/04/2008

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