quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Do Bom e do Melhor !!!
DO BOM E DO MELHOR
Estamos obcecados com "o melhor". Não sei quando foi que começou essa
mania, mas hoje só queremos saber do "melhor".
Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a
melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor
vinho.
Bom não basta.
O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros pra trás e
que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos
com "o melhor".
Isso até que outro "melhor" apareça - e é uma questão de dias ou de
horas até isso acontecer. Novas marcas surgem a todo instante.
Novas possibilidades também. E o que era melhor, de repente, nos
parece superado, modesto, aquém do que podemos ter.
O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a viver
inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno
desassossego.
Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho
no que falta conquistar ou ter. Cada comercial na TV nos convence de
que merecemos ter mais do que temos.
Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os
outros...) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor,
ganhando melhores salários.
Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com
o melhor tênis. Não que a gente deva se acomodar ou se contentar
sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente. Se
não dirijo a 140, preciso realmente de um carro com tanta potência?
Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e
assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o
melhor cargo da empresa? E aquela TV de não sei quantas polegadas que
acabou com o espaço do meu quarto?
O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o
"melhor chef"?
Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora
existe um melhor e dez vezes mais caro? O cabeleireiro do meu bairro
tem mesmo que ser trocado pelo "melhor cabeleireiro"?
Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos
deixado ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos.
A casa que é pequena, mas nos acolhe.
O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria. A TV que
está velha, mas nunca deu defeito.
O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que
os homens "perfeitos".
As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, mas
vai me dar a chance de estar perto de quem amo.
O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me
constituem.
O corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer.
Será que a gente precisa mesmo mais do que isso? Ou será que isso já
é o melhor e na busca do "melhor" a gente deixa de viver e perceber o
que temos e somos !
(Leila Ferreira )
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