quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Homem Original !!




A naturalidade e a inocência são valores ansiados pelos homens porque a vida e o viver em luta os leva a perder ambas, e o sucesso mundano parece basear-se em seus opostos : a artificialidade e a esperteza.
O fato de o mais desprotegido, desajeitado, ingênuo e natural ser o escolhido pelos fados para realizar as façanhas da sagacidade, esperteza, superioridade e emprevisibilidade destinadas aos duros e aos fortes, derroga as teorias em nome das quais o homem é o lobo do homem.
O incurso das fábulas do humor mostra desajeitados, ingênuos e trapalhões conseguindo o amor da mocinha. Há, nessa alegoria, uma verdade profunda : a de que só a inocência pode salvar o homem. É uma entrada da anima onde impera o princípio masculino opressor. Permanecer alheio às paixões e deixar de ceder aos mecanismos brutais necessários às vitórias (aparentes) revela uma força inesperada(a da inocência) e uma capacidade: a de não deixar de ser quem se é, a despeito de todas as seduções do poder, força ou da dominação.
O sublime do vagabundo Carlitos(com o qual Garrincha possuía afinidade) consistia em permanecer com os próprios valores, enquanto tudo em derredor se ajustava às aparências e aos apetites de ganho e vitória.
O que estala na figura de Carlitos é a originalidade. Originalidade não é excentrecidade; é permanecer fiel às próprias origens pessoais e às peculiaridades individuais. Original é o homem que não se deixa dominar com o comum à média, por mais consagrado o seja. Original é o que mantém viva a criança, a inocência e a natureza própria. Há um traço de solidão e renitência no homem original que indica força. Já o homem médio(não original porquanto imitador do que “deu certo”) é um cão angustiado a ganir proteção e companhia; a ecoar submissão e dependência ainda quando pareça se alimentar da força, do dinheiro ou da cultura, expressões diferentes da mesma necessidade de poder.
O homem Original encontra formas pessoais e próprias de enfrentar a vida sem dilacerar o que é internamente. Por isso, na alegoria chapliniana(arquétipo de humor como representação de uma ética humana), o herói parece desajeitado, fraco, incapaz.
Desajeitado é quem não aprendeu a ajustar-se(ajeitar-se) às práticas da vida porque permaneceu fiel a si mesmo, original. Já o desastrado é um projeto de originalidade que não deu certo. Daí o humor.

Há pessoas que, no esforço de se fazerem eruditas, não encontram tempo para aprender a ser sábias>

Artur da Távola

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