quinta-feira, 10 de junho de 2010

Livre Arbítrio !


Um texto bem oportuno

A expressão livre-arbítrio é sempre linda de ser pronunciada porque simboliza a beleza da liberdade, aquele sonho que nos acompanha no processo do viver. A fonte de nossas escolhas. Como disse o filósofo francês Jean Paul Sartre ao definir o ser humano: “O homem é o ser condenado à liberdade”.

Fala-se muito nela, realmente, e sempre impressiona. Mas engana-se feio quem pensa que todos vivem embalados nessa magnífica possibilidade. Quem perde o reconhecimento da identidade, ou se acomoda num determinado padrão, pode conviver muito mal com a liberdade que conduz à clareza do desejo, por incrível que pareça.

Sempre digo que, para muitos, o livre-arbítrio—em sua gama de aberturas, mas também de responsabilidades – é uma ofensa pessoal, algo que se repudia mesmo sem saber porque.

Na medida em que ele obriga a decisões pessoais e não admite vitimidades, não comporta autopiedade e nem a postura de coitadinho que acaricia tantos egos inseguros e fraquezas que não se distinguem da natural fragilidade.

Um dos sintomas mais claros fica por conta dos que nos respondem com outra pergunta para não se comprometer. Já repararam nisso, ou melhor, já conviveram com quem age assim?

Você chega e pergunta: “Quer ir almoçar lá em casa amanhã? Nada simples e direto. E o outro responde :Quer que eu vá?” ou “vou fazer falta se não for?” Um parco recurso para quem convidou resolva por ele.

Quer para demonstrar que é legal fazendo a vontade alheia, quer para não decidir e, assim não se responsabilizar. O mais grave é que avalia como desamor quando é colocado em xeque : “Vá se tiver vontade : por mim, tudo bem ir ou não ir”. O que se torna mortal como resposta vinda do interlocutor.

Um perigo com pessoas que se comportam assim em relação a nós é que podemos acabar dominando ou, pior, apossando-se de seus significantes, o que anula seus possíveis significados. Este é o valor que se dá para as coisas; aquele porquês de se dar tal valor. Quem não arbitra, não distingue valores.

E, por tabela, perde a noção do seu próprio existir em função da opinião alheia, anula-se acreditando tratar-se de humildade, de concordância, de facilitação de relacionamento.

O que vale para o convívio, mas vale também para o amor.

Como dizia Virginia Wolff: “Em minha inocência e ignorância eu atribuía a algumas pessoas o poder de liberar, produzir, fazer exercer-se e se comunicar o afeto em mim e de mim. Esse afeto pertencia a essas pessoas ficando eu delas dependente para sempre. Se, por alguma razão, me deixassem ou não quisessem produzi-lo em mim eu secava, e o que é pior : ficava em seu lugar, e no meu, apenas um vácuo”.

Forte, não ? Mas muito verdadeiro para os que se recusam a assumir as suas escolhas e usufruir, na plenitude e na permissão, esse maravilhoso livre-arbítrio.

Luiz Alca de Sant’Anna

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